Romaria
de São Gonçalo
Na
noite do dia 23 de junho até amanhecer o dia 24, foi de muita festa e devoção
na Comunidade de Góes Artigas, localidade de Km 101. Na casa de José Moraes,
por mais um ano seguindo a tradição de mais de três gerações a Família Moraes
realizou a Romaria de São Gonçalo em devoção a São Gonçalo e São João Batista.
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Família Moraes - Cantadeiras, Romeiro e Ajudantes do Romeiro |
Graças
ao bom tempo e a coragem dos devotos em enfrentar à má condição das estradas,
muitas pessoas estavam presentes, da comunidade de Góes Artigas à maioria, mas
também muitas pessoas das Comunidades de Assentamento Europa, Barreiros,
Banhados, Guará, Itapara e das cidades de Curitiba, Guarapuava, Irati, Inácio Martins,
Ponta Grossa, São Paulo, entre outras.
Preparativos
da Festa
Dias
antes do dia da Romaria de São Gonçalo, a organização da Festa começou. Foram
muitas coisas organizadas com antecedência para que tudo estivesse pronto para
receber os devotos e Dançar São Gonçalo. Para tanto a família e vizinhos se
ajudaram para construir, desmanchar, arrumar, pintar e enfeitar.
As
duas cáeiras em homenagem a São João Batista, que iluminaram e esquentaram a
noite, foram construídas de lenha em forma de mutirão familiar, segundo José
Moraes as mesmas variaram de 15 à 20 metros de altura cada;
Como
todos os anos foi “carneado” isto é abatido um porco, cuja a carne acompanhou a
tradicional quirerada, preparada por Noeli Moraes, esposa de José Moraes.
Depois da “carneança”, a carne foi fritada e conservada na lata para guardar o
sabor sem igual do porco crioulo;
Arrumação
do altar, essa atribuição foi assumida por Vera Lucia e Rosilda de Moraes que
decoraram o altar com folhas de butieiro, pinhas e flores, tudo para aconchegar
as imagens de São Gonçalo, São João Batista e Nossa Senhora Aparecida;
As
bandeirinhas de beleza singular, cada uma com cor e cortes específicos, fez com
que a simplicidade do papel ceda dessa cor a casa e a noite de Romaria. As
bandeirinhas de feitio de Cecília Maria de Moraes foram ensinadas por ela à
suas filhas Vera Lucia e Rosilda que com muito apreço as fazem e, esse ano
tiveram ajuda de Jackson Moraes, filho de Vera Lucia;
O
mastro a São João Batista foi preparado por José Moraes, a escolha da madeira e
a pintura foram feitas com muita devoção, pois a bandeira do mastro ficará hasteada
pelo período de um ano, até a próxima Romaria. As tintas usadas na pintura
geralmente são ofertas de festeiros, que se comprometeram na festa
anterior a contribuir com a realização da Festa desse ano, a festeira que doou
as tintas desse ano foi Eva de Moraes irmã de José de Moraes. A bandeira de São
João Batista a qual foi pregada ao mastro foi encomendada a costureira da
comunidade Tereza Saldanha que confeccionou a bandeira, desenhando e pintando
São João Batista.
Arrumação
da casa, está função fica à cargo de Noeli Moraes que disponibiliza sua casa
para realizar a festa, os moveis são removidos para dar espaço ao altar e aos
devotos que ali passam à noite. Para tanto é necessário muito trabalho para
conseguir espaço, lembrando que os quartos também são usados para as crianças
dormirem enquanto os adultos rezam e dançam;
A
comida foi preparada como de costume por Noeli Moraes. No fogão não faltou lenha,
pois o trabalho é continuo. Foi necessário esquentar a carne de lata que já
tinha sido frita anteriormente, preparado um grande taxo de quirera, sem contar
que o chimarrão não parou de rodar a noite toda. Sendo que na semana de Romaria
Dona Noeli recebeu muitas visitas em casa, algumas para ajudar nos preparativos
e outras para participar da festa. Na noite de Romaria além da janta que foi
servida por volta das 20h, no forte do frio e do sono foi servido o famoso café
da madrugada para dar ânimo as cantadeiras, rezadores e devotos.
Romaria
de São Gonçalo – Noite de Fé e Festa
Os
devotos chegaram à pé, de cavalo, carroça, carro e carona. E assim se iniciou à
ansiedade para começar a Dança de São Gonçalo, enquanto isso foi servido a
janta, colocado as crianças para dormir, e aproveitado o tempo para se aquentar
na cáeira e tomar um quentão, pois na noite de Romaria sempre faz muito frio.
A
Dança para São Gonçalo é feita em volteadas, isto é, são separadas em
números impares de um à sete, no caso dessa Romaria foram dançadas três
volteadas. Cada volteada é composta por pares impares formados por casais de
homens e mulheres, separados em duas filas, à direita as mulheres atrás do
Romeiro e a esquerda os homens seguindo o ajudante de Romeiro. A frente das
mulheres estava o Romeiro José Moraes, e a frente dos homens se revezaram os
ajudantes de Romeiro Silvio e Antonio de Moraes.
Durante
a volteada não se pode entrar ou sair
pares, quem entra na dança precisa permanecer até o fim da volteada, o Romeiro exige o respeito dos participantes, tanto os
que estão dançando como os que estão assistindo não podem permanecer de chapéu
ou boné na cabeça, precisam parar de conversar ou conversar baixo de maneira
que não atrapalhe o rito e jamais beber bebidas alcoólicas durante a volteada.
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Cantadeira Noemia, beijando o Santo - Dança de São Gonçalo |
As
cantadeiras compõe os primeiros lugares da fila das mulheres e cantam para São
Gonçalo cantigas que aprenderam pela tradição as quais dão lhe vida com agudos em repetidos estrofes. Quatro
cantadeiras são irmãs, são elas, Maria Rosa Lewitzki, Eva Oliveira, Vera Lucia
de Moraes e Rosilda de Moraes, que seguindo os passos de seu pai já falecido, o
Capelão Manoel Pires de Moraes, cresceram cantando e rezando Romarias,
Recomendas, Novenas e Velórios juntamente com seus irmãos e primos. Neste ano à
Cantadeira Noemia, prima da família e moradora da Comunidade de Barreiros
também ajudou cantar à Romaria.
A
Dança de São Gonçalo consiste em beijar São Gonçalo no altar, não lhe dando as
“costas” de maneira alguma, em forma de homenagem, agradecimento e louvor ao
Santo.
Após
as três volteadas foi realizado a
Procissão com São João Batista no Andor,
durante a procissão rezada pelo Capelão Alcides Correia foram cantados Benditos,
enquanto todos caminhavam em direção ao rio também seguravam velas nas
mãos, de forma simbólica retratam à lavagem do Santo no rio, a fim de
aprontá-lo para sua festa.
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Cantadeiras cantam Benditos e Ladainhas enquanto é erguido o Mastro. |
Vera
Lucia de Moraes retirou o quadro de São João Batista do Andor e o banhou no
rio, secando-o com uma toalha nova, ou seja, ainda não usada. Após, todos que
desejaram puderam “se lavar” no rio, com objetivo de espertar no sono que
assolava a madrugada, bem como, “se benzer”, isto é, se purificar e se proteger
com a benção de São João Batista.
Depois
deste momento, apenas com a luz das velas e das cáeiras, sob as Ladainhas
e Benditos os homens se encarregaram de erguem o Mastro, pregando no
mesmo a bandeira de São João Batista que acompanhou a procissão. O Mastro erguido
ficará hasteado até à próxima Romaria, neste momento inúmeros fogos de artifício
foram queimados em louvor a São João Batista.
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Erguida do Mastro de São João Batista |
Retornando
para dentro de casa novamente, o Capelão conduziu a Novena da Festa rezando
orações da cartilha de rezas do ano de 1906, a qual pertenceu ao Capelão Manoel Pires
de Moraes, que em sua época à rezava. As escritas são rezadas e cantadas em latin,
em oferenda à
devoção da família a São João Gonçalo e São João Batista, desencarregando a
promessa feita.
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Novena da Festa - Romeiro José Moraes |
O
último rito da Festa aconteceu quando o dia 24 já estava claro, e os festeiros
do próximo ano foram agradecidos um à um com a queima de um foguete.
Nos
intervalos das volteadas e demais
ritos, Alcides Correia gritou o leilão com prendas doadas pelos festeiros, que foram
litros de bebidas, galinhas, assessórios de cozinha, etc. Que serviram para
contribuir com os gastos da festa.
A
Romaria que acontece rodeada de mato fechado, fez do céu um clarão, pois
marcando cada rito, desde à chegada dos participantes até o amanhecer foram
queimados inúmeros foguetes, sob à responsabilidade dos filhos e sobrinhos de
Jose Moraes que controlaram a queima dos fogos.
Devoção e Tradição
Para
Família Moraes a Romaria não é uma diversão, é sobretudo uma tradição de décadas fundamentada na devoção aos Santos
Festeiros, um ato de fé que se torna a cada ano uma missão a ser realizada,
respeitando a memória do Capelão e patriarca Manoel Pires de Moraes e
correspondendo ao desejo da mãe dessa grande família Cecília Maria de Moraes
que incentiva a Família à realizar essa linda devoção todos os anos.
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Cecília Maria de Moraes - Beijando o Santo.
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O
dia de Romaria de São Gonçalo é esperado pela Família Moraes, vizinhos e
moradores dos arredores, faz parte da cultura tradicional da região e por isso
precisa ser fortalecida como prática cultural, para que assim supere o risco de
ser extinta como tantas outras práticas tão importantes à preservação de nossa
cultura local.
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