Histórico

Góes Artigas e uma comunidade rural, localizada no município de Inácio Martins, região Centro-Sul do Paraná, a 14 km do Distrito do Guará/BR 277 e 25 km da cidade de Inácio Martins. Sua formação deu-se em meados dos anos 40, com a exploração de recursos madeiráveis, tais como o Pinheiro do Paraná, Imbuia e Erva-Mate, movimentando as serrarias e ervateiras da região. Apenas com a chegada da Estrada de Ferro é que a comunidade até então conhecida como Iratinzinho passou a chamar-se Góes Artigas. Em 1941 foi construída a nova e atual Igreja da comunidade chamada Menino Jesus, que até hoje conserva pinturas em seus interiores, como orações em latim, figuras e diversos anjos.

Na década de 80, com o carregamento de madeiras e dormentes, Góes Artigas tornou-se uma influente comunidade para o comercio local, a qual agregava muitos moradores e casas de comércio.

Após ter passado por um amplo e complexo processo de exploração de recursos naturais pelas grandes empresas madeireiras da região, muitos moradores migraram para as cidades vizinhas e grandes centros, a procura de trabalho, provocando esvaziamento na comunidade.

Atualmente a comunidade é formada por 118 famílias, que mesmo pressionadas pelos grandes monocultivos de pinos e eucalipto que rodeiam a comunidade, resistem para permanecer no campo, numa iniciativa da preservação do meio ambiente e da cultura local rural. Para tanto desenvolvem atividades ligadas a agricultura familiar, como a produção de leite, criação de animais, produção de alimentos agroecologicos e grãos, extrativismo de pinhão e erva-mate.

A cultura local é marcada pelas Romarias de São Gonçalo, Ternos de Quaresma e Caeiras da Família Moraes, Olhos de Água do Monge João Maria, Mesadas de Anjos, Benzedeiras, Torneios de Futebol, Carreiradas, Procissões e Tapete de Corpus Christi.

Hoje a comunidade está organizada na Associação de Agricultores Menino Jesus, Grupo de Agricultores Agroecologicos Água Viva, Grupo dos Produtores de Leite, Pastoral da Criança e demais movimentos ligados a Igreja Menino Jesus.

Com a expectativa da criação da sede da APA da Serra da Esperança na comunidade de Góes Artigas, a qual prevê a restauração da vila de antigos moradores da Rede Ferroviária, bem como, a Estação de Trem, a comunidade anseia o desenvolvimento de projetos que garantam o desenvolvimento sustentável da comunidade, valorizando as belas paisagens naturais, preservando a cultura local e oferecendo alternativas de renda as famílias.

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domingo, 22 de julho de 2012

Agricultores Ecológicos realizam “arrastão do lixo”


Em algumas famílias da comunidade e principalmente nos membros do Grupo de Agricultores Ecológicos Água Viva de Góes Artigas (GAEAV) da Associação de Agricultura Agroecologica São Francisco de Assis (ASSIS) a preocupação com a destinação do lixo é algo presente e nem sempre lixo é lixo, na maioria das vezes os objetos descartados ou então considerados “lixo” são utilizados novamente com outra finalidade.

São exemplos desta prática, a utilização de materiais orgânicos como cascas de frutas e verduras, erva-mate do chimarrão, pó de café, etc. na formação da compostagem a qual é usada como adubo no cultivo agroecológico; restos de comida viram “lavagem” para o cachorro, galinha ou outros animais; garrafas pet são usadas principalmente para armazenar leite de vaca; latas e vidros para guardar sementes, compotas e doces; restos de madeira servem de lenha para o fogão e forno; roupas usadas são utilizadas na confecção de tapetes ou doadas para outras famílias; papéis papelão e plástico geralmente são usados para iniciar um no fogão; sacolas plásticas são lavadas e usadas como embalagem novamente; e, lixo de banheiro que não pode ser reutilizado é queimado diariamente.

Morador Alinor Oliveira - limpeza dos arredores da casa da agricultora Rosenilda da Silva

Mas mesmo assim ainda há um grande acumulo de latas, garrafas e vidros, que acabam se acumulando nos rios, sangas, poços de água, em terrenos de mata, degradando o meio ambiente, poluindo a água e tornando o lixo um problema na comunidade, e também uma ameaça à saúde dos moradores. Considerando que a coleta municipal de lixo no meio rural nunca foi preocupação da Prefeitura Municipal de Inácio Martins, o GAEAV solicitou formalmente a Prefeitura Municipal de Inácio Martins a coleta do lixo na comunidade de Góes Artigas. A partir de então a Prefeitura Municipal envia uma vez ao mês a comunidade caçamba que apanha o lixo coletado concentrado em pontos e leva até o Aterro Sanitário Municipal de Inácio Martins que fica localizado próximo a sede urbana do município.

Agricultores Willian Macarroni e Lademiro Lewitzki
A fim de tornar a comunidade mais limpa, pela segunda vez membros do GAEAV, nesta última sexta-feira 13 realizaram “arrastão do lixo” isto é, um mutirão para coletar lixo das casas dos agricultores agroecológicos, arredores das áreas de produção de alimentos agroecológicos e espaços públicos da comunidade de Góes Artigas, concentrando o lixo em pontos e que na tarde do mesmo dia foram apanhados pela caçamba de lixo da Prefeitura Municipal e levados até o Aterro Sanitário Municipal.

Infelizmente o mutirão encontrou muito lixo na comunidade, os antigos poços de água em sua maioria atualmente são usados como depósitos de lixo, nas casas, muitos recipientes como baldes, pneus, garrafas, potes e latas acumulam água parada sendo propicio para a o desenvolvimento do mosquito da dengue. Lugares de uso público como Cemitério, Quadra de Esportes e a Estação Ferroviária foram locais em que o Grupo encontrou o maior acumulo de lixo. No entanto as residências familiares não ficaram de fora, a imagem bonita “bem cuidada” na frente das casas nem sempre tem a mesma beleza nos fundos, onde foi encontrado muito lixo doméstico de anos em céu aberto.

Antigo Poço d´Água, atualmente usado como deposito de lixo - inclusive garrafas

O “arrastão do lixo” será realizado em periodicidade ainda a ser determinada pelo GAEAV, sendo que a intenção é sensibilizar mais pessoas da comunidade tanto para participação no mutirão quando na conscientização sobre a temática do lixo no meio rural. Desta vez foram convidadas a participar da atividade todas as pessoas da comunidade, por meio de aviso prévio na Capela Menino Jesus, no entanto das 118 famílias que residem na comunidade, apenas o morador Pedro Borges de Oliveira juntou-se aos moradores que integram o GAEAV contribuindo com o “arrastão do lixo”.

Taisa Lewitzki - coletando lixo 
No próximo “arrastão do lixo” o GAEAV pretende convidar a Secretária Municipal de Saúde por meio das Agentes Comunitárias de Saúde (ACSs) que atuam na comunidade, e os profissionais de saúde que atuam no combate ao mosquito da dengue e no Posto de Saúde Familiar (PSF) da comunidade.

Essa brilhante iniciativa tomada pelos agricultores ecológicos faz parte da consciência agroecológica e vem a casar com outras práticas do Grupo, tais como, proteção de fontes, recuperação de áreas degradadas, mutirões para limpeza de hortas e roças, garantindo a produção de alimentos saudáveis livres de “venenos” e transgênicos, bem como, a preservação do meio ambiente e a valorização do trabalho coletivo solidário.

Roseli, Maria e Willian
Para o GAEAV a coleta de lixo é de extrema necessidade, tanto para a limpeza da comunidade, a proteção da água e do meio ambiente, sendo também um critério da Rede EcoVida de Agroecologia para que o Grupo conquiste a certificação de produção orgânica emitida pela mesma por meio do Núcleo Monge João Maria de Agroecologia.

Com muita disposição, alegria e vontade participaram do “arrastão” os agricultores e agricultoras: Ana Vieira, Claudete Dupezaki, João Daniel, Lademiro Lewitzki, Maria Macarroni, Maria Pereira, Nelson Macarroni, Roseli Santini, Rosenilda da Silva, Taisa Lewitzki, dando exemplo aos filhos e sobrinhos que também acompanharam à atividade: Emanueli Macarroni, Fabio da Silva, Marieli Pereira, Olinda Gabriely Lewitzki, Willian Macarroni; e, Pedro Borges de Oliveira, morador da comunidade que se juntou ao Grupo contribuindo na atividade.



Coleta de lixo nos arredores da Quadra de Esportes da Comunidade

Caçamba da Prefeitura Municipal apanhando o lixo coletado

As fotos aqui publicadas são de autoria de Olinda Gabriely Lewitzki de apenas 10 anos que fez inúmeras imagens da atividade. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Agroecologia: produzindo alimentos saudáveis e cidadania!


Agricultoras Agroecologistas do GAEAV
Motivados com a possibilidade de sustentabilidade após a realização de Curso de Agricultura Orgânica realizado pelo SENAR, 17 famílias camponesas da comunidade de Góes Artigas organizaram em 16 de julho de 2006 o Grupo Orgânico Em Busca do Sucesso, cujo objetivo era organizar a produção de alimentos orgânicos de qualidade para abastecer o mercado local.

Durante dois anos o Grupo se reuniu mensalmente nas propriedades a fim de organizar a auto-gestão do Grupo por meio da análise das propriedades, regularização de documentação dos integrantes, tais como DAP e Bloco de Produtor Rural, realização de oficinas para preparo de caldas e adubos orgânicos, construção de barreiras contra venenos e quebra ventos, resgate de sementes crioulas, troca de mudas e sementes, entre outras atividades.

Em 2008 o Grupo começou a receber apoio do Instituto Equipe de Educadores Populares, Ong de sede em Irati de fomento a organização de grupos sociais do campo, que apoiou a reorganização do Grupo, viabilizando o contato com o Grupo de Ecologistas de Sobradinho, comunidade vizinha e também o processo de certificação da produção agroecologica nas propriedades por meio da Rede Ecovida de Agroecologia entre outras dinâmicas de fomento a agroecologia.
Participação GAEAV Feira Agroecologica em Inácio Martins no ano de 2010

A partir desse momento o Grupo Informal em Assembléia Geral elabora e institui seu próprio Regimento Interno, passando a chamar-se então GAEAV - Grupo de Agricultores Ecológicos Água Viva de Góes Artigas.  As 10 família integrantes decidiram que o objetivo geral do Grupo era viabilizar a agricultura familiar através da agricultura ecológica e da formação de redes de colaboração solidária, bem como a integração entre seus associados visando a superação em conjunto dos seus problemas comuns.

Entendendo que a agricultura ecologica é um conjunto de práticas que abrangem meramente quatro fases: 1) organização cooperativa de seus membros; 2) a produção ecológica; 3) organização e comercialização dos produtos ecológicos produzidos pelos associados; e, 4) a conquista da autonomia, sendo que as experiências geradas devem propiciar uma produção ecologicamente equilibrada e conhecimentos possíveis de serem socializados pelo grupo, através do comprometido com o principio da solidariedade.

Aprofundou-se no entanto, com mais ênfase os princípios do modo de vida agroecologico, planejando e atuando na conversão das propriedades do modo de produção convencional, baseado em agrotóxicos e fertilizantes químicos, para o modo de vida agroecologico, observando a produção livre de agrotóxicos e fertilizantes químicos, através de preservação das fontes d’água, preparação de caldas agroecologicas, organização e auto-gestão do Grupo, etc.
Mistica do Setor de Agroecologia de Inácio Martins da ASSIS

Com objetivos claros, o GAEAV em dezembro de 2008 durante a Ceia de Natal da ASSIS - Associação dos Grupos de Agricultura Agroecologica São Francisco de Assis, realizada na Comunidade de Pirapó, município de Irati é acolhido para integrar-se a Associação que com sede em Irati articula 11 Grupos de Agroecologia de cinco municípios da região centro-sul do Paraná, sendo eles Irati, Inácio Martins, Fernandes Pinheiro, Teixeira Soares e Rebouças.

Desta maneira no ano de 2009 a Associação ASSIS viabiliza o acesso do GAEAV ao PAA - Programa de Aquisição de Alimentos.  Pela modalidade de Doação Simultânea os agricultores agroecologistas passaram por meio de projeto aprovado pela Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB a entregar alimentos livres de venenos e fertilizantes químicos aos estabelecimentos públicos cadastrados de Inácio Martins, tais como, a PROVOPAR – Casa Lar, PROVOPAR – Casa de Apoio, Centro Municipal de Educação Infantil Meu Pequeno Mundo, Escola de Educação Infantil Criança Feliz, APM - Escola Municipal de Maria de Jesus Turra, Escola Municipal Luiz Scheleder, Escola Municipal Padre Antonio Molinari, Escola Rural Municipal Dona Amália Shimit Pereira, Escola Rural Municipal Bom Jesus, Fundação Hospitalar de Saúde Municipal e Banco de Alimentos de Obras Sociais de Ponta Grossa. Como contrapartida a Prefeitura Municipal de Inácio Martins apóia o Grupo com o transporte dos alimentos até a sede do município, para distribuição dos mesmos aos estabelecimentos receptores.

Que recebem semanalmente mais de 40 variedades de alimentos agroecologicos, produzidos com práticas ecológicas, livres de defensivos e fertilizantes químicos, ou seja, os famosos venenos e adubos que são altamente prejudiciais a nossa saúde e ao meio ambiente.
Feira Agroecologica em Inácio Martins, ano de 2010

Durante esse processo de organização do GAEAV foram muitas idas e vidas, algumas famílias desistiram no percurso, outras persistiram buscando apoio de entidades e do puder público local para fortalecimento do Grupo.

Atualmente o Grupo está auto-organizado, participa ativamente da Associação ASSIS reunindo-se no setor de agroecologia de Inácio Martins juntamente com o Grupo de Ecologistas de Sobradinho, participa de intercâmbios e demais espaços de formação, está em processo de certificação das propriedades por meio da Rede Ecovida de Agroecologia/Núcleo Monge João Maria, encontram-se trimestralmente para celebrar a mística, trocar experiências, planejar e realizar mutirões, resgatar variedades de sementes crioulas, gestar os processos de comercialização, hoje representados pelo PAA e Feira da Agricultura Familiar de Inácio Martins que o GAEAV começará a participar no mês de dezembro do decorrente ano.

Hoje, o Grupo é uma experiência positiva na comunidade de Góes Artigas, que produz alimentos saudáveis não apenas para comercialização local, mas para subsistência, melhorando dessa forma a qualidade de vida das famílias em consonância com a preservação ambiental, animando o exercício da cidadania e organização coletiva. No entanto se tem como desafio, o fortalecimento do Grupo, agregando um maior número de famílias da comunidade ao GAEAV.
Reunião GAEAV/Outubro 2011 em Góes Artigas

Fonte: Livro Ata GAEAV, Regimento Interno GAEAV, Agricultora Agroecologista Maria Rosa Lewitzki.