Camponesas
Por Taisa Lewizki, acadêmica de Antropologia – Diversidade Cultural Latino-Americana (UNILA)
Em minha trajetória a fotografia tem sido uma ferramenta de reivindicação, hora pela beleza, pela denúncia ou notavelmente pela visibilidade social. Neste contexto as fotos que aqui socializo têm a intenção de mostrar a diversidade de práticas e conhecimentos tradicionais associados à sociobiodiversidade, as quais são reproduzidas cotidianamente pela mulher e pelo homem do campo.
Essas práticas e conhecimentos foram experimentados por inúmeras gerações passadas, guardados na memória e repassados pela oralidade, fazeres e práticas que não aprendemos na escola, muito menos na universidade, mas no olhar e no fazer.
Essas fotos também são um movimento desconstrutivo da imagem que associa os camponeses ao atraso, a estagnação no tempo e outros olhares pejorativos construídos ao longo dos anos sobre nós.
Quando me refiro a “nós” é porque sou camponesa e estes registros não são distintos de minha identidade. Estar na universidade, especificamente na UNILA, é a ocupação de um espaço de grande valia para nós. Historicamente fomos objeto de pesquisa da doutora academia e, raras as vezes que tivemos acesso às informações elaboradas a partir de nossos dados, muito menos fomos informados sobre a finalidade de tais pesquisas.
Este gargalo acadêmico de apropriação dos conhecimentos das comunidades na elaboração de monografias, teses e dissertações, que na maioria das vezes não detém nenhum compromisso social, infelizmente, ainda é presente, e precisamos com urgência rompê-lo.
Como voluntária dessa ruptura, apresento as fotos das mulheres que são de quatro gerações de minha família, sendo elas: avó Cecília Maria, mãe Maria Rosa, irmã Adriana, sobrinhas Isabela, Maria Cecília e Maria Laura e, sobrinho Nicolas José, da Comunidade Rural de Góes Artigas, município de Inácio Martins, região Centro Sul do Estado do Paraná.
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Camponesas que nas trocas de sementes crioulas, mudas e ramas, preservam a diversidade de nossos alimentos e plantas medicinais. Trabalhadoras que insistem na agroecologia em oposição ao agronegócio que com seus venenos contamina a terra, a água e as matas.
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Guerreiras que sobrevivem no campo, quando testemunham diariamente a derrubada de nossos pinheiros e tantas árvores nativas que são remédio e fonte de alimento para nossas comunidades, sem que nenhuma justiça ambiental seja feita pelos órgãos competentes.
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Vítimas da violência causada pelo avanço dos monocultivos de pinus e eucalipto que desertificam nossa mata e não respeitam limite algum, nem nossos lugares sagrados como os Olhos d´Água do Monge João Maria.
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Mães que enfrentam a despedida de seus filhos que deixam suas casas atrás de estudo etrabalho nos grandes centros, e mesmo assim lutam pelo acesso a políticas públicas que garantam qualidade de vida as famílias camponesas, bem como, por políticas públicas que reconheçam nossas demandas e especificidades, como movimento de resistência identitária ao nosso modo de vida camponês.
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